Atualidades - Agosto 2007 II

Traficante colombiano fez negócios no Brasil durante 3 anos


Caçado por policiais colombianos e americanos, Juan Carlos Ramirez Abadia, conhecido por Chupeta, poderia escolher muitos lugares do mundo para se esconder, cercado de segurança e mordomias, e ele optou pelo Brasil. A reportagem do Fantástico mostrou neste domingo (12) o percurso do traficante no país, local em que desembarcou há três anos.

Chefe de cartel de drogas, acusado de mandar mais de mil toneladas de cocaína para os Estados Unidos, de ser responsável por 315 assassinatos e de ter um patrimônio ilícito estimado em US$ 1,8 bilhão, Abadia pisou pela primeira vez no Brasil, três anos atrás, em uma praia de visual paradisíaco em Camocim, no litoral do Ceará. O traficante saiu da Colômbia em um veleiro, fez escala na Venezuela e viajou vários dias até desembarcar na praia.

Na chegada, em uma tarde de domingo, Juan Carlos Abadia foi recepcionado por dez pessoas que organizaram a fuga dele. Abadia trazia US$ 4 milhões na bagagem, dinheiro vivo para dar início a uma nova vida, feita de muitos rostos e identidades falsas.

O traficante passou a primeira noite no Brasil em um hotel à beira-mar. Fabio Vasconcellos estava na recepção. Ele diz não se lembrar do rosto de Abadia, mas se recorda da chegada de muitos colombianos. “Os veleiros param em frente ao hotel e é um ponto estratégico deles desembarcarem", diz Fabio.

Segundo as investigações, Abadia chegou disfarçado com cabelos pintados, bigode e cavanhaque, diferente das fotos de quando era mais jovem e que aparecem na lista dos traficantes mais procurados pelo governo americano.

"Ele optou pelo Brasil, porque ele foi orientado por um amigo pessoal que já tinha estado escondido no Brasil que as condições aqui eram muito boas e que ele poderia se esconder facilmente", explica Sérgio Alamberti, advogado do traficante.

Rota dos esconderijos

A rota dos esconderijos no país começou em uma estrada que liga Camocim a Sobral. Do lugar, o colombiano embarcou em um bimotor. Um rapaz diz que ajudou a carregar quatro malas grandes e pesadas para dentro do avião.

Foto: Reprodução/EPTV
Casa do traficante em Campinas (Foto: Reprodução/EPTV)

De Sobral o avião fez um pouso para reabastecer em Bom Jesus da Lapa, na Bahia, e seguiu até Araxá, no interior de Minas Gerais. Ramirez Abadia se hospedou em um hotel e pela manhã, bem cedo, viajou sete horas de carro até São Paulo. Ele passou duas semanas escondido em flats e hotéis na região nobre dos Jardins, na Zona Oeste de São Paulo.

Nesse período, o traficante fez sua primeira grande aquisição: a mansão de cinco suítes em um condomínio fechado. Neste mesmo período ele também mudou radicalmente sua fisionomia. Saiu o cavanhaque, e no lugar ele adotou um par de óculos e uma plástica para esticar o rosto, mudar o formato dos olhos e do queixo.

Sentindo-se seguro com seus disfarces, o colombiano saiu comprando fazendas, casas na praia, um iate avaliado em R$ 3 milhões. Bens que registrou em nome de colaboradores do esquema de lavagem de dinheiro.

Veja fotos da mansão do colombiano

"A Polícia Federal já pediu o bloqueio de todas as contas e empresas que estão em nome dessa pessoa e dos laranjas que trabalharam para ele", afirma o delegado Fernando Francischini.

No começo de 2005, Abadia sai de São Paulo com destino ao Paraná. Ele muda de casa e novamente de fisionomia. O colombiano faz plástica para afinar o nariz, ganha uma cova no queixo e deixa o rosto quadrado com implante de silicone.

Arte de enganar

A arte de enganar sempre fez parte da vida bandida do traficante formado em engenharia industrial nos Estados Unidos e chefe de um dos cartéis mais poderosos da Colômbia, o Vale do Norte. Foi de Abadia a idéia de montar uma frota de pequenos submarinos para transportar cocaína da Colômbia até o México e de lá para os Estados Unidos.

"Uma coisa bem primitiva, que navegava a aproximadamente cinco metros de profundidade, levava três tripulantes. A primeira viagem ele próprio foi pilotando o submarino, que tinha capacidade de levar dez toneladas de cocaína", conta Alamberti.

Segundo a polícia, o dinheiro sujo trazido da Colômbia pagou muitas ilegalidades. Em depoimento obtido com exclusividade pelo Fantástico, Ramirez Abadia revelou que um contato em Foz do Iguaçu falsificava os carimbos da Polícia Federal de entrada e saída do país. Assim ele renovava vistos de turista.

Cada carimbada custava US$ 200. O traficante disse à Polícia Federal que comprou muitos carimbos e todo o tipo de material para falsificar documentos. Ele tinha nomes falsos e uma poderosa rede de laranjas à frente de muitos investimentos.

A lavagem de dinheiro em 17 empresas pôs Ramirez Abadia na mira da Polícia Federal. Durante meses, agentes seguiram os passos do colombiano dia e noite.

"Não havia agentes infiltrados, mas investigando, em um trabalho insano. Nós tínhamos que caracterizar que ele estava aqui no Brasil para cometer crimes de lavagem de dinheiro", comenta Jaber Saad, superintendente da Polícia Federal em São Paulo.

Informações obtidas no Brasil levaram à maior apreensão de dinheiro vivo já feita na Colômbia. A polícia daquele país descobriu US$ 71 milhões em dinheiro e barras de ouro encontrados nas paredes e piso de casas de Ramirez Abadia.

Preocupado com as investigações, o traficante decidiu apressar as mudanças, e partiu do Paraná para Santa Catarina, mas logo voltou a São Paulo. Pelo caminho, fez novas escalas em clínicas de cirurgia plástica. Ele ficou com o nariz ainda mais fino, os olhos ainda mais arregalados, as sobrancelhas bem esticadas e os lábios diminuídos. Uma outra pessoa, cada dia mais obcecada em ficar irreconhecível.

"Quando o paciente busca uma mudança substancial, esse paciente precisa ser investigado melhor, para saber quais são essas propostas que ele tem e por que ele quer mudar", alerta Osvaldo Saldanha, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.

Últimos dias

Ultimamente Juan Carlos Abadia só saia de casa para ir a uma clínica, na Zona Sul de São Paulo. Na semana passada, o colombiano fez mais uma cirurgia plástica. Dessa vez operou orelhas e queixo.

Terça-feira (7) seria dia de retorno à clínica, mas ele não apareceu, nem telefonou. Os funcionários estranharam e logo perceberam que a falta na consulta era por um motivo muito sério: o paciente tinha sido preso pela Polícia Federal.

Nas fotos do dia da prisão eram claras as cicatrizes da operação feita pela médica Loriti Bruel. Ela nega que tenha colaborado para mudar a fisionomia do traficante e se diz vítima.

"Ele veio com outro nome, outra nacionalidade, como argentinos, tanto ele, como ela. Eu jamais pensaria que era uma pessoa tão procurada, uma das mais procuradas internacionalmente", justifica Bruel.

A captura de um dos inimigos número 1 dos Estados Unidos correu o mundo e dominou o noticiário na Colômbia.

A luxuosa casa onde Abadia morava foi ocupada por policiais, que deram fim aos mimos e mordomias de que ele e a companheira, também presa, usufruiam.

Após a prisão, o colombiano mostrou aos policiais o caminho do dinheiro, dentro da mansão e em outras propriedades. Até agora foram apreendidos R$ 4,5 milhões.

Foto: Reprodução/TV Globo
Reprodução/TV Globo
Abadia embarcou no avião da Polícia Federal para o Mato Grosso do Sul (Foto: Reprodução/TV Globo)
Por razões de segurança, Ramirez Abadia foi transferido de São Paulo para o presídio federal em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. As autoridades aguardam decisão da Justiça sobre o pedido de extradição para os Estados Unidos. Enquanto isso, fica uma preocupação, a de que o traficante possa ser resgatado.

"Não vejo essa possibilidade e ele próprio não acredita nisso também", diz Sérgio Alamberti.

Para Saad, o perigo está descartado. "Eu me sinto absolutamente tranqüilo, porque eu conheço a capacidade dos presídios federais. Há a possibilidade total de mantê-lo preso, sem a mínima chance de resgate."
Atualmente confinado em uma pequena cela, um dos traficantes mais perigosos do mundo dá sinais de que vai falar sobre os negócios, os disfarces e as pessoas que o ajudaram durante esses três anos escondido no Brasil.

"Ele não vai fazer nenhum acordo para entregar facções na Colômbia, ele vai para a polícia brasileira, se restringir aos fatos ocorridos no Brasil. Com relação a isso ele vai dar todos os detalhes, já se comprometeu", diz o advogado.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Redação Ti Nota 10 - Klauss

Prova Discursiva nota 10 - Banca Cespe

Portugues - Orações